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Especialistas recomendam suspensão de Jogos Rio-2016 por zika

Ingrid
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Publicado em 27/05/2016 às 19:20
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Prosseguir com os Jogos no Rio, a segunda cidade mais afetada pela epidemia de zika no Brasil, seria "irresponsável" e "anti-ético", argumentam os especialistas na carta. / Foto: Marvin Recinos / AFP

Prosseguir com os Jogos no Rio, a segunda cidade mais afetada pela epidemia de zika no Brasil, seria "irresponsável" e "anti-ético", argumentam os especialistas na carta. Foto: Marvin Recinos / AFP

Em uma carta aberta, mais de 150 médicos, cientistas e pesquisadores internacionais alertaram nesta sexta-feira que os Jogos Olímpicos do Rio-2016, previstos para agosto, deveriam ser transferidos ou adiados devido ao vírus da zika vírus.

Prosseguir com os Jogos no Rio, a segunda cidade mais afetada pela epidemia de zika no Brasil, seria "irresponsável" e "anti-ético", argumentam os especialistas na carta.

"Nossa maior preocupação é a saúde global. A cepa brasileira do vírus da zika afeta a saúde de formas que a ciência nunca tinha visto antes", diz a carta, assinada por especialistas de Brasil, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Noruega, Filipinas, Japão, África do Sul, Turquia, Líbano, entre outros.

"Um risco desnecessário se apresenta quando 500.000 turistas estrangeiros de todos os países que comparecerão aos Jogos se expõem potencialmente a esta cepa e retornam às suas casas, onde pode se tornar endêmica", afirmou. "Se isso acontecer em locais mais pobres, como aqueles ainda não afetados (por exemplo, a maior parte do Sul da Ásia e da África), o sofrimento pode ser grande", alertaram na carta.

O zika pode causar malformações, como a microcefalia, que leva a bebês nascerem com a cabeça e o cérebro incomumente pequenos. Aproximadamente 1.300 bebês nasceram no Brasil com deficiências irreversíveis desde que o mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, começou a transmitir zika, no ano passado.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e as principais autoridades sanitárias dos Estados Unidos têm alertado as pessoas que viajam para o Brasil a tomar as precauções necessárias para evitar as picadas do mosquito. Alertam também às mulheres grávidas que evitem áreas onde o zika está circulando, como o Rio de Janeiro.

Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, entre 5 de agosto e 18 de setembro, "ocorrerão durante o inverno no Brasil, quando há menos quantidade de mosquitos ativos e o risco de ser picado é menor", informou a OMS no início deste mês.

Mas a carta aberta, assinada por médicos e pesquisadores das principais universidades ao redor do mundo, expressou preocupação de que as autoridades não estejam protegendo as pessoas adequadamente ante o risco representado pelo zika.

"É antiético correr este risco somente por Jogos que poderiam ocorrer de qualquer forma, mesmo que adiados e/ou transferidos", destacou. A carta recomenda a OMS a "realizar uma nova avaliação baseada em evidências" da situação no Brasil e de suas recomendações para os turistas.

 

"CONFLITO DE INTERESSES"- Dado o grande investimento financeiro do evento, a carta questiona se a agência sanitária da ONU foi bem sucedida em fornecer um parecer não tendencioso da situação.

Segundo o documento, a entidade mundial pode não estar considerando adequadamente as opções, que incluem mudar os Jogos para um local onde o zika não esteja presente, adiá-los até que o zika esteja sob controle, ou cancelá-los.

"Nós estamos preocupados de que a OMS esteja rejeitando essas alternativas devido a um conflito de interesses", ressaltou a carta.

"Especificamente, a OMS entrou em uma parceria oficial com o Comitê Olímpico Internacional (COI), em um Memorando de Entendimento que permanece secreto", acrescentou. Eles pediram que a organização divulgue o memorando. "Não fazê-lo lança dúvidas a respeito da neutralidade da OMS", afirmou.

"A OMS necessita rever a questão do zika e o adiamento e/ou mudança dos Jogos. Recomendamos que a OMS convoque um grupo independente para avaliar isto junto ao COI em um processo transparente, baseado em evidências, onde a ciência, a saúde pública e o espírito esportivo venham em primeiro lugar", declarou a carta. "Em vista das consequências para a saúde pública e a ética, não fazê-lo é irresponsável", concluiu.

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