Histórico

Dezesseis anos depois do número 1 de Guga, Brasil ainda tenta ser competitivo

Wladmir Paulino
Wladmir Paulino
Publicado em 02/12/2016 às 20:02
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As cenas acima se passaram há 16 anos. Como disse o narrador, o brasileiro Gustavo Kuerten, o Guga, fechava a temporada de 2000 no topo do ranking mundial do tênis. Seguiu-se uma 'epidemia' no Brasil, com um monte de gente correndo para clubes e escolinhas de tênis. Mas o tempo não deu mais nenhum número 1 - no simples - verde e amarelo. Até esperado, já que gênios como Kuerten não dão em árvores. Mas a ausência de tenistas competindo em alto nível segue o roteiro de outras modalidades com destaques sazonais, como natação, ginástica e atletismo: falta de massificação, principalmente na escola, custo elevado e ausência de troca de informações entre federações.

Guga foi um dos grandes fenômenos do esporte brasileiro. / Foto: Divulgação.

Guga foi um dos grandes fenômenos do esporte brasileiro. Foto: Divulgação.

O professor do Squash Tennis Center de Pernambuco, Davi Soares, lembra que um número 1 não se faz, já nasce feito. Mas colocar tenistas entre os 50 melhores é algo que pode ser 'fabricado'. E lembra o exemplo da Grã-Bretanha, que hoje tem um atleta no topo - Andy Murray, pela primera vez na história, embora tenha outros tantos entre no top 50. "Eles conseguem isso graças a um trabalho estruturado. O que o Brasil precisa fazer é ter investimentos na base para ter uma quantidade boa de gente jogando aliada a qualidade no ensino", pontuou.

Ele segue o raciocínio lembrando que essa estruturação tem que ser feita localmente, num esforço conjunto de federações, clubes e escolinhas da modalidade. A partir da base, ter um planejamento para incentivar quem quer continuar a competir ou mostrar uma aptidão acima da média. "É preciso um suporte técnicao para promover torneios, ações que desnevolvam o t´^enis e depois a Confederação entrar para integrar quem se destacar a partir de encontros períodicos. Seria muito bom ver os melhores do Brasil treinando juntos nem que seja duas vezes no ano durante uma semana. Com uma troca de ideias entre os técnicos", avalia.

O papel da escola, de acordo com Davi também seria importante para massificar o tênis. "Com mais gente jogando aumenta a possibilidade de encontrar alguém com talento e vontade", aponta. O que pode ajudar no caso específico de Pernambuco é que o jogo da raquete e da bolinha terá um circuito escolar entre os próximos dias 9 e 11. Depois, fará parte dos Jogos Escolares. "Será aberto para alunos das escolas públias e particulares, dos 12 aos 17 anos. A expectativa é de que 80 pessoas participem. Isso gera estímulo. No ano que vem a criança quer voltar".

Investimento

Por enquanto, o que existe ainda é uma dedicação que requer um investimento alto para a média da população. O professor estima uma mensalidade para duas aulas semanais de tênis na faixa de R$ 300. Esse preço pode ser mais baixo ou mais alto a depender do local escolhido. Para quem quer seguir carreira como atleta, o investimento é mais alto ainda. "Para fazer a transição do juvenil para o adulto é um custo muito alto. Quando o juvenil está com 17, 18 anos, vai gastar uns R$ 100 mil por ano (treino, viagens para competições e hospedagens)".

Segundo ele, isso prejudica bastante a maioria dos atletas, já que o patrocínio só procura os considerados top 5. "Muitos não têm a condição de treino que poderiam ter e têm que ir se virando".

Uma saída seria seguir um caminho que o próprio Davi trilhou quando foi atleta: tentar uma bolsa numa universidade norte-americana para treinar e jogar em alto nível enquanto se prepara para outra profissão. "Quando o atleta entra na fase mais cara ($) vai estar numa universidade treinando bastante e gratuitamente, jogando jogos competitivos e garatindo sua formação para a vida. E com 22, 23 anos ainda pode jogar como profissional". 

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